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quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Entre o Céu e o Inferno (by Nádia Mendonça Gouveia)


Entre tantas canções e poemas, fórmulas e teoremas, o amor e a felicidade ainda não foram totalmente desvendados, nem mesmo esquematizados ou colocados em uma fôrma. Ainda desconheço seus reais significados, seguramente já vivi diversos momentos felizes, outros nem tanto, antes de me casar titubeei entre amor e paixão, entre momentos intensos e insanos, tranqüilos e verdadeiros, mas a fórmula mágica ou a poção perfeita ainda não encontrei, e talvez jamais encontre, eis a beleza e grandiosidade de tal discussão. E como sou uma pessoa persistente e curiosa, insisto em buscar pelo menos uma definição plausível, para minhas elucidações sobre o amor, paixão e felicidade, por saber que é uma dúvida comum entre muitos.

Ah o Amor! Se não bastasse sentir, ainda me preocupo em defini-lo. Este sentimento fundamental e inerente ao ser humano tão complexo e ao mesmo tempo tão simples, hora tempestade, hora calmaria, para alguns e em algumas ocasiões um porto seguro, para outros um vale assombrado, que de fato sendo bom ou ruim, é impossível não sentir, e não me refiro ao amor incondicional entre pais e filhos, irmãos e amigos, me refiro àquele sentimento que induz a necessidade de alguém, alguém que não podemos ou não queremos viver sem.

Por mais que pareça simples, a teoria sobre o amor é densa e caótica, e por esse motivo a maioria das pessoas formula sua percepção através de opiniões alheias, poucos se preocupam em desenvolver um senso crítico a respeito, até porque há uma confusão catastrófica principalmente entre os jovens, entre amor e paixão. O primeiro é algo acolhedor, puro e verdadeiro, a paixão por vezes é passageira, insana e superficial, acontece com tamanha intensidade e traz consigo um tsunami de sentimentos, sensações, desejos e frustrações é algo avassalador, o amor deve ser como um lago, cristalino e calmo, onde nossas emoções e sentimentos estão seguros e deslizam de uma forma incrivelmente calma, acalentando nosso coração.

Tenho ouvido e testemunhado no decorrer de minha existência muitos comentários e histórias sobre o amor, e vez ou outra o vejo associado por algumas pessoas à felicidade, ouvi esses dias a explanação de uma amiga: “Não consigo viver sem o fulano, só ele consegue me fazer feliz”, considerei seu desabafo um tanto quanto dramático e fui tentada a perguntar: “Como exatamente ele lhe faz feliz? Você jamais foi, ou melhor, esteve feliz sem estar ao lado dele?” Ela me olhou com os olhos arregalados, e pude perceber que seu olhar mudou com a minha pergunta, antes era um olhar triste e cheio de lágrimas e após levá-la a tal reflexão surgiu em seu olhar um brilho que apesar de estar ofuscado por suas lágrimas, transmitia um mínimo de esperança, a partir desse momento quem passou a refletir a respeito fui eu.

Sua resposta não me surpreendeu sua reação sim, depois de conversarmos um pouco a respeito ela levantou a cabeça respirou fundo e olhando em meus olhos disse: “eu nunca havia me questionado dessa maneira, eu apenas repetia a mim mesma que ele era minha felicidade, e passei a acreditar nisso, e vejo que agindo assim estou sendo infeliz, me enganando e lhe atribuindo uma responsabilidade que ele não tem conhecimento”. Eis o motivo de minha indagação a respeito desse nobre sentimento, defini-lo seja pra mim talvez uma forma de conscientização própria a despeito dos conflitos e conquistas atribuídas à seguinte equação construída por alguns: amor ² = felicidade.

E o amor, qual sua definição afinal? Em uma das cenas mais emocionantes do filme “Love story” de 1970 a personagem principal Jennifer Cavalleri, ( interpretada pela atriz Ali MacGraw)diz ao seu amado Oliver Barrett (interpretado pelo ator Ryan O’neal) que “Amar é nunca ter que pedir perdão”, frase essa que se consolidou e rendeu algumas discussões. Confesso que considero tal elucidação muito bela e profunda, porém generalizada e distorcida, tenho a seguinte opinião, “Amar é ter força e sabedoria suficientes pra errar o menos possível, e quando isso acontecer é ter hombridade suficiente para assumir a falta” o perdão já é outra história.

De acordo com a Wikipédia “O conceito mais popular de amor envolve, de modo geral, a formação de um vínculo emocional com alguém, ou com algum objeto que seja capaz de receber este comportamento amoroso e enviar os estímulos sensoriais e psicológicos necessários para a sua manutenção e motivação”. Conceito esse tão genérico quanto o anterior, talvez porque essa definição seja uma encruzilhada gigantesca, com várias ramificações, armadilhas e desilusões. Em minhas aspirações para alcançar com êxito tal resposta me deparei com alguns fantasmas e angústias, o que considero normal, todo ser humano é capaz de amar e portanto está exposto a tais dissabores, a partir daqui me deparo com outro sentimento também inerente ao ser humano, a paixão, esse sim demanda cuidados.

Em minha opinião só se “ama” uma vez na vida, quando esse amor se vai ou se desgasta por algum motivo, não era amor, pois esse deve ter forças suficientes para enfrentar qualquer obstáculo com unhas e dentes em prol de sua satisfação e segurança, esse suposto “amor” que se foi na realidade era paixão. Em uma discrição particular, diria que a paixão é um sentimento estarrecedor, embriagante e perverso, nos coloca em situações extremas, altera toda fisiologia corporal, nos faz perder a razão, a sensibilidade e talvez até o juízo, essa sim pode acontecer várias vezes, eis o perigo, pois geralmente após fazer inúmeros estragos ela se vai com a mesma intensidade que se apresentou inicialmente, e traz um sofrimento inexoravelmente desmedido, em algumas ocasiões se transforma em ódio, mágoa, frustração. Segundo a Wikipédia “o acometido de paixão perde sua individualidade em função do fascínio que o outro exerce sobre ele é tipicamente um sentimento doloroso e patológico”. Se perder entre o amor e os devaneios da paixão é estar literalmente entre o céu e o inferno.

O papel do amor é assegurar que esses sentimentos não se acomodem de forma permanente em nosso coração. O amor é benevolente, sincero, acolhedor, é um sentimento extremamente puro e desenganado. E talvez a felicidade esteja mesmo ligada a tal sentimento, para mim não há um estado de felicidade plena, há momentos felizes, quem encontra um amor verdadeiro pode mesmo se considerar um ser humano feliz, pois há luz em seu coração, por pior que a vida se apresente em dados momentos, poderá o amor ser seu refúgio. Há quem lute por seus ideais, por seus amores ou paixões, há quem se intimide com tais aspirações e há quem passe pela vida sem nem mesmo notar esse turbilhão à sua volta. E como já dizia Machado de Assis: “Cada qual sabe amar a seu modo; o modo, pouco importa; o essencial é que saiba amar”.

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